quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Com 40 mil por jogo, Fla não alivia crise financeira

Há dois anos, um dos maiores motivos de orgulho do Flamengo tem sido a fidelidade de sua torcida. Com média superior a 40 mil pessoas por dois Campeonatos Brasileiros seguidos, o time rubro-negro tem levado multidões ao Maracanã quando joga. É o alívio em tempos de crise. Mesmo assim, líder de público e renda, o clube pouco consegue usufruir dessa participação ativa de seus fiéis seguidores. Os cofres continuam vazios.

Com dívidas que beiram os R$ 200 milhões (sendo metade trabalhista e metade fiscal), o Flamengo tem boa parte das rendas dos jogos comprometida. Neste ano, a grande esperança de salvação foi a Timemania, loteria criada para os clubes saldarem suas dívidas com o governo através da exploração de suas marcas. Entretanto, a baixa procura dos apostadores frustrou boa parte dos dirigentes. O governo estimou que a Timemania arrecadasse uma receita anual de R$ 520 milhões, e a realidade é que ela ficará em torno de R$ 130 milhões. Já há quem pense numa alternativa para saldar as dívidas de INSS, FGTS e Receita Federal: a Timemania 2.

Se no balanço financeiro o clube tem contas de país subdesenvolvido, nas arquibancadas o desempenho rubro-negro é similar aos dos principais clubes europeus. O Flamengo tem média de público superior às registradas no Campeonato Inglês e no Alemão, as maiores do Velho Continente, que registram cerca de 37 mil por jogo. Este ano, o Flamengo teve 40.694 de média - número que perde para o de 2007, quando o clube registrou mais de 41 mil pessoas. Aliás, quando foi campeão na década de 80, o rubro-negro passou a casa de 60 mil pessoas por jogo.

"Dizer que não há como investir no futebol dentro do Brasil é uma bobagem. Aqui há um mercado muito forte a ser explorado e tem uma economia estável. O problema é que a gente ainda tem uma estrutura que parou no tempo. Está viciada. E não é só nos clubes. Trata-se de um contexto. Assim, o dinheiro não entra", explica Leonardo, ex-jogador e atual dirigente do Milan.

O Flamengo foi responsável por 12% de toda a renda do Campeonato Brasileiro deste ano. Ao todo, o clube arrecadou R$ 12.586.681 brutos em 18 jogos (uma partida a menos que todos os outros participantes do campeonato porque teve portões fechados no jogo contra o Santos, na primeira rodada), com uma média de R$ 699.260, quase o triplo da registrada no Brasileiro.

Quantias que impressionam, mas que o clube quase não vê. Do total bruto arrecadado, o Flamengo só embolsou cerca de R$ 5 milhões - menos da metade do total. O resto ficou retido para o clube saldar dívidas. Com a folha salarial em torno dos R$ 3 milhões, o Brasileiro inteiro só paga um mês e meio de salários.

"O problema no Brasil é histórico. Os clubes vivem do dinheiro dos direitos de televisão e quase não ganham nada com merchandising, por exemplo. Não há uma visão de mercado", explica Leonardo. "Isso é fruto de como os clubes foram geridos ao longo dos anos. Na maior parte dos casos, não existe um retorno em infra-estrutura", completou.

Reféns da TV

Principal fonte de renda para os clubes até a década de 80, a participação das bilheterias nas contas das agremiações foi caindo gradualmente ao longo dos anos. Hoje, cotas de patrocinadores e da televisão formam a maior parte do faturamento.

"Antigamente, a bilheteria era praticamente 80% das receitas do clube. Hoje, não chega a 10%. Enquanto isso, a TV responde por mais de 60% do faturamento", comenta João Henrique Areias, consultor de marketing e ex-diretor do Clube dos 13 e do próprio Flamengo.

Mesmo com todos os problemas, o Flamengo anunciou que terá um aumento de R$ 30 milhões em suas receitas para o ano que vem. Além disso, o clube está próximo de conseguir verbas para investir em seu centro de treinamento através de incentivos fiscais, como foi feito com o São Paulo e o Atlético-MG.

Mas é a profissionalização do departamento de futebol a saída vista pelo presidente Márcio Braga, separando o social da principal atividade esportiva do Flamengo. Porém, para Areias, é preciso profissionalizar o clube como um todo para que se torne viável no futuro.

"Nos anos 90, os clubes fizeram associações com investidores, mas os dirigentes continuaram sendo voluntários, com uma mera relação de apoio. No Flamengo, por exemplo, o José Carlos Dias não pode ser um dirigente amador. Ele não pode acumular o cargo com outra carreira. Para o clube, é muito ruim ele não estar lá 100%. O dirigente só terá condições de administrar a dívida do clube se passar o tempo inteiro lá", comenta Areais sobre o demissionário vice-presidente de finanças do clube. "É preciso criar um conselho de gestão, um de administração e um diretor executivo para o clube".

Nenhum comentário:

Postar um comentário