terça-feira, 12 de junho de 2012

Especial: Dívida dos clubes brasileiros bate em R$ 3 bilhões




Se os maiores clubes do Brasil chegaram a R$ 2 bilhões em receitas, suas dívidas também aumentaram e chegaram a R$ 3 bilhões. Isso significa que os clubes usassem todas as suas receitas para pagar dívidas – com o que não haveria futebol no país durante um ano – ainda assim, faltaria pagar R$ 1 bilhão.

A dívida vem crescendo sempre acima da inflação, embora nem sempre acima do crescimento das receitas. Uma pequena melhora na situação aconteceu no ano passado, quando as receitas cresceram mais, especialmente em razão do contrato com a TV Globo (veja gráfico). Mas nada indica que a situação é sustentável, porque, como disse Carlos Aragaki, da Mazars, em 2012 a perspectiva é ter um aumento de receita bem menor do que os 27% verificados em 2011.

– O ano passado foi para muitos clubes de investimento. Neste ano, temos de pagar as contas. É isso que estamos fazendo no Corinthians – diz Raul Correia da Silva, diretor financeiro do Corinthians. Silva contesta o valor da dívida corintiana apresentada nesta reportagem. Diz que é R$ 22 milhões menor do que o calculado pelo método da Mazars, que o LANCENET! adota também.

Critérios
Em razão das diferenças de critérios entre os clubes e do concisão dos balanços, não é possível afirmar com precisão o tamanho da dívida de cada um.

Por exemplo, o Flamengo decidiu não colocar um centavo de reserva de contingência em 2011. Isso fez com que sua dívida ficasse menor nesse ano. Mas em 2012 o clube já tem pelo menos um débito provável novo, os R$ 40 milhões na ação movida por Ronaldinho Gaúcho. A batalha jurídica vai durar vários anos, mas não há provisão para o caso de derrota.

Outro ponto é que algumas auditorias não computam todo o passivo como dívida. Tira por exemplo as receitas a realizar. Nem todos fazem.




Furacão deve apenas R$ 19 milhões

O Atlético-PR é uma exceção entre os clubes brasileiros. Enquanto seus 13 rivais têm dívidas de R$ 230 milhões em média, o Atlético deve R$ 19 milhões, cerca de 8%. A situação do clube não vem da atual administração, que aliás, chegou só neste ano, mas sim de uma tradição do clube.

– No Atlético, o orçamento não é peça de ficção. Os gastos obedecem ao planejamento e não se gasta mais do que se arrecada – diz Dagoberto dos Santos, diretor-geral, o executivo-chefe do clube.

O Atlético não deve a bancos e sua dívida fiscal é tão pequena que a receita da Timemania supera o valor do parcelamento. Para o diretor, que já foi esteve no Santos e Clube dos 13, a receita é investir na formação de atletas.

– A questão não é se vale a pena investir nos jogadores. Esse é o único caminho para não se endividar com contratações.



Superdevedores respondem por 65% da dívida do futebol nacional

Quando o assunto é dívida, cinco clubes se destacam. Nos últimos anos, os membros do ‘Big 5’, os quatro grandes do Rio mais o Atlético-MG, vêm alternando sua posição no bloco dos maiores devedores do país. O líder atual é o Botafogo com dívidas de R$ 482 milhões, mais de R$ 100 milhões a mais do que o Fluminense, vice-líder. Em conjunto, devem R$ 1,9 bilhão, cerca de 65% do total.

A distância desses para os demais é nítida. O quinto do grupo, o Flamengo deve 67% a mais do que o sexto nacional, o Corinthians.

A maior parte da dívida dos cinco superdevedores é com o governo, especialmente União e Prefeitura. Mas há uma boa fatia que se referem a execuções trabalhistas, por falta de pagamento de FGTS e direitos de imagem.

No caso do Botafogo, há muitas execuções, algumas relativas ainda a atletas que atuaram no século passado. Além disso, o clube teve de reconhecer uma atualização da dívida fiscal de mais de R$ 100 milhões determinada pela Receita.

Além disso, dos 14 maiores clubes do país, o Glorioso não é só o que mais deve como também o que menos arrecada. O clube precisaria de oito anos e três meses de arrecadação só para pagar a dívida.
O Flamengo, por outro lado, passou mais um ano em quinto lugar, o melhor possível nas atuais circunstâncias. Mas o clube tem tomado decisões polêmicas no balanço como colocar zero real de provisão contra processos. As contas de 2011 ainda não estão aprovadas.

Outro problema que atinge esses clubes é a total falta de controle. Com exceção do Flamengo, têm oposição muito fraca ou inexistente e os balanços são aprovados quase sem debate.


COM A PALAVRA
Carlos Aragaki
Sócio da Mazars e especialista em auditoria de clubes

Três clubes ultrapassam R$ 100 milhões
São Paulo, vasco e Atlético-MG ultrapassaram R$ 100 milhões em empréstimos bancários com certos detalhes.

Para vasco e São Paulo, o banco BMG é o principal financiador da dívida. Já o Galo acumulou R$ 150 milhões de dívidas divididas em: R$ 49 milhões com instituições financeiras sem discriminar quais os bancos e R$ 101 milhões com instituições não financeiras. Caso o clube abrisse a nota explicativa saberíamos se sua dívida foi assumida com federação, confederação, clube dos 13 etc.

Somente Cruzeiro e Flamengo não registraram contingências nos seus balanços, o que significa que de fato são os únicos clubes da Série A sem contingências ou que a administração entendeu não serem prováveis de perda. Chama a atenção o Flamengo, com a ação de Ronaldinho acima de R$ 40 milhões – se provável, individualmente é maior que a de dez clubes nos balanços de 2011.

A principal dívida dos clubes é a fiscal, sendo que grande parte da preocupação deve focar o passivo fiscal pós Timemania, ou seja, o que não entrou na loteria.


Dívidas bancárias sobem

Uma das notícias mais negativas sobre as dívidas dos clubes é que a parte mais dolorosa, a que tem maiores juros e menor chance de um refinanciamento camarada, é a que mais cresce. São as dívidas com os bancos.

Do total da dívida, mais da metade (52%) é fiscal – incluindo a Timemania. E esse número vem se mantendo relativamente estável nos últimos anos. O perfil da dívida está mudando em outro ponto. Estão se reduzindo as pendências trabalhistas – em que os clubes quase sempre conseguem grandes descontos – e aumentando as dívidas bancárias.

– As dívidas bancárias são caras, por isso os clubes precisam controlá-las. O Corinthians, por exemplo, reduziu sua dívida bancária em R$ 10 milhões em 2011, de R$ 62 milhões para R$ 52 milhões – explica o diretor financeiro alvinegro, Raul Correa da Silva.




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