quarta-feira, 12 de março de 2014

Acreditem: há salvação para o Campeonato Carioca


O rompimento de Flamengo, vasco e Fluminense perante a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro – anunciado ontem – configurou demonstrativo de indignação quanto aos rumos da gestão Rubens Lopes. Na prática, pouca coisa mudou, já que a reeleição do cartola se consumou na manhã de hoje. Ainda que pelos próximos anos as práticas se mantenham, é importante que a Federação conviva com a sombra de uma insatisfação que possa resultar em clamores da opinião pública.

A FFERJ é, sem sombra de dúvidas, a maior responsável pelo esvaziamento de um campeonato que chega a 2014 com uma de suas piores médias de público. Segundo a ferramenta do Globoesporte.com, são apenas 2.360 pagantes em média, sendo verdadeiras insanidades como a partida Bonsucesso x Flamengo diante de 375 testemunhas.

Ainda que muitos se utilizem da estatística para defender o fim do Estadual, levantamento exclusivo do Blog Teoria dos Jogos demonstra que o torneio possui, sim, apelo. Se em termos de presença de público as coisas vão mal, as audiências televisivas não são nada ruins quando comparadas ao Campeonato Paulista ou à própria Libertadores. Vejamos:

Audiência média do Carioca-2014 (em pontos): 18,2. Share médio: 42%.

Audiência média do Paulista-2014 (em pontos): 21,5. Share médio: 43%.

Audiência média da Libertadores-2014 (em pontos, apenas para o RJ): 22,2. Share médio: 43%.

Fonte: TV Globo. Para os Estaduais, somam-se audiências da Globo e da Band.

Embora num primeiro momento o Carioca aparente números inferiores, algumas questões precisam ser relativizadas. Jogos da Libertadores são veiculados às quartas, dia em que as audiências são em média 35% superiores aos domingos. Na direção oposta, apenas 30% dos jogos do Carioca foram no meio da semana. O próprio Paulistão não vive este problema pela ausência de clubes de São Paulo na Libertadores. Por fim, o share (percentual de televisores ligados em um dado canal) é praticamente o mesmo nos três casos, denotando um Cariocão proporcionalmente tão assistido quanto os demais.

Um outro posto de vista:

Audiência média dos jogos do Flamengo pela Libertadores às quartas (em pontos): 24. Share médio: 46%

Audiência média dos jogos do Flamengo pelo Carioca às quartas (em pontos): 22,3. Share médio: 44,3%

Fonte: TV Globo. O Botafogo não teve partidas veiculadas às quartas pelo Carioca. Na Libertadores, registrou 20,5 pontos e 39,5% de participação.

A diferença no apelo da Libertadores se reflete unicamente nas arquibancadas – quando o torcedor de fato precisa desembolsar pelo benefício. Isto deixa claro haver um problema no Campeonato Carioca como produto. Mas produtos sempre podem ser melhor trabalhados - uma das incumbências da FFERJ.

Além das exigências insurgentes – que passam por questões como peso nas votações, transparência e menores taxas – a Federação valorizaria seu próprio campeonato caso tomasse algumas das seguintes medidas:

1)    Redução no número de participantes – elevado de 12 para 16 por mera de politicagem. O ideal seriam os quatro grandes adentrando uma competição com apenas seis pequenos, após eliminatórias anteriores;

2)    Ajuda financeira na reforma e manutenção de estádios, viabilizando que times pequenos e do interior exercessem seu mando de campo. Seria o fim da insanidade que faz alguns viajarem até 200 km mesmo quando mandantes, perdendo receitas e reduzindo a competitividade gerada pelo “fator-casa”;

3)    Parcerias com a iniciativa privada (nos moldes das antigas promoções da Nestlé) ou o setor público (troca de ingresso por notas fiscais), ao menos nas partidas de menor apelo;

Não significa que não existam responsabilidades solidárias, pois os clubes tomam parte e ratificam decisões da Federação. Um bom exemplo reside na precificação dos ingressos. Embora o problema seja muito mais o produto do que o preço, não se pode subestimar a influência de uma variável tão importante. Clássico esvaziados não podem, em hipótese alguma, superar em ticket médio a semifinal da Copa do Brasil. Jogos de grandes contra pequenos apresentam oferta infinitamente superior à demanda, fazendo com que preços tendam a zero. Assim, uma boa saída seria disponibilizar ingressos gratuitos para sócios-torcedores.

Nenhuma das iniciativas faria do Estadual a coqueluche que já foi um dia. Verifica-se no Brasil uma mudança de paradigma que valoriza torneios nacionais e continentais em busca de prestígio e maiores rendas. Ainda assim, há de haver espaço para campeonatos racionais, enxutos e com melhores condições de jogo. A centenária rivalidade local agradeceria.

Um grande abraço e saudações!

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