segunda-feira, 2 de junho de 2014

No adeus, Wallim cobra a torcida do Fla: "Não pode dar 1 real por dia?"


Um dia após tomar a decisão de renunciar ao cargo de vice-presidente de futebol do Flamengo, Wallim Vasconcelos fez um balanço de sua gestão à frente do departamento e tocou em diversos assuntos inerentes ao clube, em entrevista coletiva na Gávea, cobrando mais participação do torcedor. O ex-dirigente, que chegou a se emocionar ao agradecer o apoio da família, destacou que, quando assumiu, há 18 meses, se assustou com as condições gerais de trabalho, principalmente das categorias de base, e garante que deixa tudo em melhores condições e com mais organização ao se afastar do dia a dia. Inclusive, sobre pagamentos ao elenco, que estão quitados até quanto às premiações.

Ao lado do diretor geral Fred Luz, que não falou durante os 50 minutos em que ambos estiveram sentados no auditório da sede, Wallim reforçou também a importância do plano de sócio-torcedor e avisou que não está satisfeito com a adesão. Ele acredita que, pela força do Flamengo, muito mais já poderia ter sido arrecadado. E questionou a paixão de quem não está ajudando.

- O sócio-torcedor, eu digo que não estou satisfeito com a quantidade que aderiu. Dizem que pelo momento não vai atrair, e é ao contrário. A grande maioria, infelizmente, não tem renda para se manter, mas não estou falando para eles, e sim para os que têm recursos. Um dia a torcida vai ter o time que quiser. Não acredito que grande parte dos 40 milhões não pode pagar menos de um real por dia para ajudar sua paixão. Que paixão é essa? Não pode pagar um real por dia e recuperar o Flamengo? - cobrou. 


Wallim Coletiva Flamengo (Foto: Thiago Benevenutte) 
Wallim com os olhos marejados na parte final da coletiva de imprensa (Foto: Thiago Benevenutte)


Em tom de cobrança, não aliviou nas críticas pela má fase, que teve reflexo direto na atuação nos primeiros 45 minutos contra o Cruzeiro.

- Se eu pudesse resumir esses 18 meses, teve mais acerto do que erro, mais sucesso que fracasso. Ano passado estávamos em pior situação do que hoje. Tanto na saída do Jorginho quanto na do Mano. O Flamengo se superou, cresceu e terminou bem o ano. Esse ano concordo que estamos numa situação muito abaixo. Ontem fiquei muito revoltado com o primeiro tempo contra o Cruzeiro. Poucas vezes vi um time tão sem atitude, tão sem compromisso quanto aquele primeiro tempo (...) Mas volto a reforçar que não acho o elenco muito pior do que estão aí. Acho equivalente à maioria. O Flamengo não era para estar nessa situação. Acho que a torcida tem toda razão em protestar. Eu faria o mesmo. Mas quero que fique claro o seguinte: nós da diretoria fizemos tudo o que foi solicitado pelos jogadores. E disse para eles que estou esperando a resposta em campo, quero saber quando vai vir. É inadmissível um tipo de comportamento daquele. Admitimos perder, mas da maneira que perdemos não é a maneira que o Flamengo perde, que é lutando até o final e jogando sério. Isso vai ser um trabalho grande para o (diretor Felipe) Ximenes e para o Ney (Franco), saber onde estão os erros e os atletas que não querem ficar. Têm todo o direito, fica quem quer. Mas, se ficar, vai suar a camisa, não é para ficar levando passeio - disse Wallim em uma de suas primeiras respostas.

Mais uma vez, Wallim afinou o discurso com o restante da diretoria sobre os motivos de sua saída. Ele voltou a falar que nada a tem a ver com divergências internas ou com os maus resultados e que já vinha amadurecendo a ideia desde o fim de 2013  por questões profissionais. Além disso, adiantou que o presidente será candidato à reeleição para o triênio 2016-2018.

 - Não há baque nenhum, vou ficar na diretoria do mesmo jeito, só vou sair do futebol. Vou ver que função vou poder ocupar. Vou continuar ajudando, não estou saindo do Flamengo. O presidente Eduardo (Bandeira de Mello) vai ser candidato à reeleição no ano que vem, mesmo com a pressão que a família dele está fazendo - revelou.

Veja outros trechos da coletiva:

Sucessor no cargo
- Não necessariamente será daqui de dentro (da diretoria empossada), vai ser uma pessoa que possa se dedicar e que seja próxima à filosofia de trabalho. Não adianta chegar e querer contar com salário de R$ 1 milhão, R$ 2 milhões. Não te milagreiro aqui, não vai chegar Messi nem Cristiano Ronaldo. A não ser que traga alguém que banque o trabalho. As pessoas do Flamengo têm que esquecer quem deixou a conta para as outras direções. Não adianta. Vamos trazer excelentes jogadores, Fred (Luz) está ajudando. Jogadores se oferecem toda hora, querem vir para cá.

Posição no conselho diretor
- Não vou me afastar do Flamengo. Peço para que a torcida siga acreditando, as pessoas estão trabalhando, vão trabalhar bastante pela reformulação do elenco. Falta muita coisa para fazer no Flamengo, mas o trabalho vem sendo feito, foi bem sucedido nesses 18 meses. O futebol não é uma ciência exata. Quem vier, vai cobrar atitude desses jogadores. Queria deixar um aviso aos oportunistas de plantão: não adianta bater por bater. Aqueles colunistas que não tem notícias exclusivas vão bater por bater. Daqui de dentro não sai mais, vai virar fofoca. Colunista que publica coisa errada vai passar vergonha, vai inventar notícia. Aqui a casca é grossa. Não estamos aqui para nos beneficiar do Flamengo, vamos fazer o Flamengo grande custe o que custar. Quem assumir o futebol vai ser aprovado pelo grupo inteiro, vai pensar como a gente. Não adianta querer trazer um cara de R$ 1 milhão. Só se tiver alguém que quiser pagar R$ 500 mil. Vamos trabalhar para trazer jogadores qualificados, sim, não vou largar o barco no meio. Ajudarei o presidente Eduardo. Se for para opinar no futebol, vou opinar.

Wallim Coletiva Flamengo (Foto: Thiago Benevenutte) 
Wallim ao lado de Fred Luz no auditória da Gávea (Foto: Thiago Benevenutte)

Estrutura e departamento de futebol
  - A gente fez varias mudanças lá. Paulo Pelaipe (ex-diretor) teve atuação importante na questão da disciplina, e isso foi constatado que mudou muito. A organização, a disciplina... O espaço para vocês trabalharem (imprensa) não é ideal, concordo, mas estamos trabalhando para melhorar. Temos olheiros, profissionais pelo Brasil para buscar jogadores, colocamos os salários e premiações em dia, coisas que no Flamengo acho que nunca tinha acontecido. O Léo Moura uma vez me disse que nunca tinha recebido 13º corretamente. Com todas as dificuldades que a gente tem, o Flamengo tem sido uma empresa que paga seus impostos e cumpre a lei. Tinha que ser regra e não exceção.

Erros da gestãoe resultados
- Erros aconteceram, mas a condução toda foi dentro da ética e nos proporcionou ganhar dois títulos importantes para o Flamengo: a Copa do Brasil e o Carioca. Falei no ano passado que não prometia títulos e tínhamos que organizar a casa e crescer aos poucos. Mas os títulos vieram, muito pela força da torcida e pela mística da camisa.

Futuro do futebol
- Ximenes e Ney vão implementar as mudanças, no elenco ou na comissão, e pontos que não estejam corretos. Não há pendências com os jogadores, está tudo em dia e é nossa hora de cobrar. Quando não estávamos em dia, eles tinham direito de cobrar, mas isso se inverteu há muito tempo. 


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