sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Guerra política se acirra, e presidente do Conselho Fiscal pede licença no Flamengo


Delair, Flamengo (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)Dentro de campo, o Flamengo se recuperou com Vanderlei Luxemburgo. Nos bastidores, não. A guerra interna continua intensa, com manobras de situação e oposição, especialmente nos conselhos Fiscal e Deliberativo. No primeiro, os membros eleitos pela oposição conseguiram a abertura de uma comissão de inquérito contra o presidente Mario Esteves. No Deliberativo, o grupo de apoio político da diretoria entrou em rota direta de atrito com o presidente Delair Dumbrosck depois de um comunicado aos associados sobre as reformas do estatuto que, segundo os opositores, causou mal-estar. Dumbrosck, por sua vez, fala que o grupo Sócios pelo Flamengo (SóFla) – principal base de apoio político da diretoria – está trabalhando contra o clube e rebate o comunicado.

A comissão de inquérito no Deliberativo – para apurar denúncias de que Esteves restringia informação aos membros do Conselho Fiscal eleitos pela oposição – deve ter sua primeira reunião nos próximos dias, segundo Dumbrosck. Esteves, contudo, pediu uma licença de 60 dias, justamente o prazo que a comissão teria para apurar as denúncias. Para Gonçalo Veronese, membro do Conselho Fiscal e um dos autores do pedido de abertura do inquérito, trata-se de uma manobra para ganhar tempo, já que, nesse período, ele poderá deixar de responder à comissão, mas esta também poderá pedir a prorrogação do prazo até que ele volte.

– Com certeza vai atrasar – disse o conselheiro, afirmando que os motivos alegados foram questões particulares.

Eduardo Bandeira de Mello e Mario Esteves conselho fiscal Flamengo (Foto: Cahê Mota) 
Eduardo Bandeira de Mello e Mario Esteves, presidentes do Flamengo e do Conselho Fiscal do clube (Foto: Cahê Mota)
Dumbrosck explicou o motivo de autorizar a abertura da comissão, que deverá iniciar seu trabalho nos próximos dias:

– Quando a oposição consegue, na eleição do Conselho Fiscal, um determinado percentual de votos, ela tem direito a ter dois membros e dois suplentes. A partir daí, acabou. É um conselho só, todos os membros têm os mesmos direitos e deveres. Mas estava havendo reclamação de que os membros que eram da oposição não estavam tendo acesso a nada, e por isso abri a comissão para apurar.

Questionado se a licença de Esteves tem relação direta com a abertura da comissão de inquérito, ele preferiu não opinar:

– Aí tem de perguntar a ele – aconselhou.

A reportagem não conseguiu contato com Mario Esteves, tampouco obteve retorno a partir de recado deixado em seu telefone. Foram feitas três ligações na tarde desta sexta-feira, e em todas o número estava fora de área.

Contra-ataques da situação

Gonçalo Veronese conselho fiscal Flamengo (Foto: Cahê Mota)Em outra frente, Veronese também sofre contra-ataque. Dumbrosck recentemente esteve de licença da presidência do Deliberativo, que foi conduzido por Rodrigo Dunshee de Abranches. Nesse período, também foi reativada uma comissão de inquérito contra o conselheiro por suposto vazamento de documento interno do clube, o que Veronese nega. A investigação foi aberta em maio por 25 membros do SóFla, de acordo com Veronese, que afirma estar em vias de processar todos os autores em ação que promete impetrar na próxima semana.

– Isso já estava arquivado, eles (membros do SóFla) aproveitaram a presença do Rodrigo, que apoia a Chapa Azul (cor que a atual diretoria usou para se eleger), e conseguiram a abertura da comissão. Não vazei documento, alguém do meu grupo pode ter vazado, mas não sei quem foi e nem tenho interesse em saber.

O principal alvo da atual gestão, no entanto, continua sendo Leonardo Ribeiro, o Capitão Léo. Suspenso recentemente em processo no Conselho de Administração, ele será novamente julgado, em outro processo interno, provavelmente na próxima semana. Caso seja novamente condenado, poderá ficar sujeito à exclusão do quadro social. Por outro lado, o ex-presidente do Conselho Fiscal também contra-ataca. Em outra comissão de inquérito aberta contra ele, Ribeiro saiu vitorioso com o arquivamento ordenado pelo presidente do Conselho de Administração, Maurício Gomes de Mattos, alegando "falta de materialidade". A acusação se referia ao seu envolvimento na aquisição de um placar eletrônico que trouxe problemas posteriormente ao clube, como relatado em reportagem do GloboEsporte.com em setembro de 2013. De acordo com Veronese, Ribeiro deverá processar os autores da denúncia no clube, entre eles o presidente Eduardo Bandeira de Mello.

Polêmica sobre reforma de estatuto

Nesta sexta-feira, o quadro político ficou ainda mais acirrado com um comunicado do SóFla a respeito da reforma do estatuto do Flamengo. No texto, o grupo faz críticas diretas a Dumbrosck e afirma que não há consenso para a votação do que chamam de "duas mudanças pontuais", por isso não pode ser chamado de reforma de estatuto. Eles tentam, de certa forma, dar o troco ao presidente do Deliberativo, que em entrevista ao GloboEsporte.com no dia 11 de agosto anunciou ter rachado com a atual gestão, chegando a falar em combatê-la nas urnas em 2015.

Dumbrosck alega que os integrantes do SóFla são imaturos politicamente e mudam de posição a todo momento. Segundo o presidente do Deliberativo, o consenso entre os demais grupos que enviaram propostas de estatuto vai muito além dos dois itens citados no comunicado. A próxima reunião do Grupo de Especial de Reforma Estatutária foi convocada para a próxima segunda-feira.

– O trabalho está sendo conduzido com seriedade, os demais grupos, que conhecem bem o Flamengo, estão tratando sem problemas, mas esse pessoal do SóFla muda (de opinião) a cada reunião. Não sou eu nem eles que vamos decidir o estatuto. Isso quem decide é o plenário. Com essa postura eles estão trabalhando contra o Flamengo, não para o Flamengo – disse Dumbrosck.

Confira trecho do documento enviado aos conselheiros:

"(...) Em junho, houve uma reunião com representantes dos quatro grupos, com a presença do Grande-Benemérito Marcio Braga. Nessa reunião, foi definido que os grupos buscariam esses pontos de consenso para levar a plenário, a exemplo do que foi feito na bem-sucedida votação para adequar o Estatuto atual à Lei Pelé, em abril. Como sugeriram os Grandes-Beneméritos, buscaríamos mudanças pontuais, ao longo de um processo cuidadoso e responsável.

"Formou-se, então, o Grupo Especial de Reforma Estatutária. Ao longo dos últimos meses, trabalhamos intensamente com os representantes dos demais grupos para buscar os temas de consenso. Até este momento, dois trechos do Conte Comigo, Flamengo foram considerados consensuais: a criação de uma Comissão Permanente de Processo Disciplinar e uma Lei de Responsabilidade Orçamentária para o clube. Poderíamos, pois, encaminhar esses temas para votação como na adequação do estatuto à Lei Pelé: esses dois tópicos, uma vez aprovados, seriam incorporados como emendas ao Estatuto atual.

"Infelizmente, há um entendimento por parte do grupo especial que os dois pontos de consenso devam ser chamados de Novo Estatuto. Aprovar duas modificações pontuais como se fossem um estatuto inteiramente novo é distorcer o trabalho que foi realizado. (...)

"Reforçamos que a votação de um novo Estatuto para o Flamengo, como anunciado à imprensa pelo presidente do Conselho Deliberativo, NÃO é consensual. Os representantes do projeto Conte Comigo, Flamengo não concordam em apresentar duas mudanças pontuais como se fossem um projeto inteiro. Não podemos fazer um novo Estatuto a cada reforma pontual que for proposta, seguindo o calendário eleitoral, ou o Flamengo teria um Carta Maior a cada dois anos - gerando toda sorte de instabilidade institucional para o clube".


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