sexta-feira, 27 de maio de 2016

Estreante duplo, Zé Ricardo vê desafio do "tamanho da torcida" do Flamengo

Zé Ricardo técnico Flamengo sub-20 (Foto: Nicholas Modesto)
O treinador que a torcida do Flamengo vai ver pela primeira vez na beira do campo no domingo tem só 45 anos, mas vem de uma longa estrada. Professor de colégio municipal na Zona Norte do Rio de Janeiro, José Ricardo Mannarino, o Zé Ricardo, é um homem de hábitos simples, próprios de quem convive há mais de 20 anos longe da badalação dos campeonatos profissionais, e poucas palavras. A ponto de ficar tímido quando fala sobre o próprio trabalho.

- É um desafio do tamanho da torcida, e conto com o apoio de todos. Agradeço ao clube por ter me dado essa chance, e espero que o Muricy se recupere o mais rápido possível - disse, em referência a Muricy Ramalho, que deixou o cargo por problemas de saúde.

Educador e formador, o treinador interino do Flamengo já viu muitos jogadores iniciarem trajetórias de sucesso e outros tantos ficarem pelo meio do caminho.

- O futebol é cheio de armadilhas - costuma dizer.
Zé Ricardo terá sua primeira chance nos profissionais em toda a sua carreira. A oportunidade surge no seu melhor momento. O título da Copa São Paulo de Juniores deste ano reforçou a impressão como um dos mais promissores técnicos de toda a base brasileira por vários companheiros. Assumiu o cargo em outubro de 2014, quando o time sofria diversas críticas, efeitos colaterais de um 7 a 0 sofrido contra o Fluminense no primeiro semestre daquele ano. Vinha de um ótimo momento no time sub-15, a "Geração 2000", que chegou a ter seis jogadores na Seleção brasileira da categoria.

Logo em sua primeira final na nova função, Zé Ricardo  conquistou a Copa OPG, torneio disputado só por times cariocas, e chegou a passar mais de 30 jogos invicto com os juniores. No início de 2015, ele disputou a Copa São Paulo e o Flamengo foi eliminado pelo Atlético-MG nas oitavas de final nos pênaltis, após empate sem gols. Em agosto, foi campeão estadual após vencer os dois turnos em cima do Botafogo. Era um título que o Rubro-Negro não conquistava desde 2007.

O título de maior repercussão, no entanto, foi a Copinha de 2016, com uma vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo, campeão da Libertadores Sub-20, nas quartas de final. Na decisão, a taça foi conquistada nos pênaltis sobre o Corinthians, após empate por 2 a 2 com o Pacaembu lotado. No intervalo, o Rubro-Negro perdia por 2 a 0.

- Eu achei que o time jogou bem no primeiro tempo, criou oportunidades, então incentivei os jogadores. Fiz apenas duas mudanças táticas: recuei o Trindade para jogar como volante ao lado do Ronaldo e dar mais liberdade para o Lucas Paquetá e inverti os pontas, Matheus Sávio e Cafu - explicou depois do jogo.

Equilíbrio, estudo e facilidade com jovens

Uma das características mais visíveis de Zé Ricardo para quem acompanha os jogos do Flamengo é a tranquilidade em campo. Dificilmente o técnico é visto se esgoelando na beira do campo, gritando com os comandados. Atento, ele busca observar sempre os jogos e orientar. Como, por exemplo, na final da Taça Brasil-Japão Sub-15 de 2014, em que o Rubro-Negro goleava o Corinthians por 4 a 0 e ele dizia.

- Vamos respeitar! Tem colega de profissão de outro lado.

O estudo do jogo é algo que também está presente em todas as conversas sobre o técnico, que tentou a carreira de jogador como zagueiro do São Cristóvão e do Olaria, mas se aposentou precocemente. Apontado como referência no futsal carioca, ele passou por Flamengo, Vasco e Botafogo na década de 90. No Cruz-Maltino, foi técnico dos meias Felipe e Pedrinho em 1993, no infanto-juvenil.

Além do futsal carioca, Zé Ricardo comandou equipes adultas na Itália, antes de migrar para o campo em 2005, para assumir o time mirim do Flamengo. Nesse meio tempo, ele conviveu muito com jogadores entre 14 e 19 anos, o que faz com que, além dos aspectos táticos do jogo, tenha também uma boa capacidade de comunicação com garotos.

- O que me impressiona nele há muito tempo é que ele sempre consegue convencer os jogadores dele a fazerem o que ele quer, e tem os grupos na mão. No futsal, quando ele mudava de clube, os jogadores queriam ir com ele. E acho que, mesmo depois de ter migrado para o campo, ele continuou com essa metodologia, de trazer sempre o jogador para o lado dele. Além disso, sempre monta os times muito bem - elogia Rafael Marques, repórter da Rádio Globo, que foi supervisor de futsal do Fluminense no final da década de 90.

No mirim, em 2005, Zé Ricardo aprovou jogadores como Thomas, e comandou parte dos campeões da Copa São Paulo de 2011. Ele saiu do clube em 2008 para comandar o Audax-RJ, e retornou em 2012, já no sub-15. Foi, por exemplo, o responsável pela indicação do centroavante Felipe Vizeu, a quem viu jogar em uma competição em Belo Horizonte pelo América-MG. 

Convite para a Seleção recusado
Em março de 2015, o telefone de Zé Ricardo tocou. Era Erasmo Damiani, coordenador de base da CBF, que o convidava para assumir a Seleção brasileira sub-15. Recém-promovido para o sub-20 na época, o treinador conversou com os dirigentes da base rubro-negra e, depois de pensar muito, decidiu ficar. 

- Foram as 48 horas mais difíceis da minha carreira profissional. Não é nenhum demérito à categoria sub-15, até porque é e continua sendo um sonho. Mas pela confiança que o Flamengo me deu, e a percepção de que o clube evolui em todos os setores, decidi ficar. Foi uma escolha complicada, e eu decidi com meu coração - contou.

A aposta, ousada, tem dado certo até agora. E o primeiro jogo de Zé Ricardo como técnico do Flamengo é contra a Ponte Preta, neste domingo, às 11h, em Campinas.

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